Dando continuação a série de publicações com o resultado da avaliação situacional dos “8Ps” da Governança Corporativa em nove empresas brasileiras (2006 a 2011), hoje apresentamos a décima parte, que versa sobre “A perpetuidade”.
O levantamento foi realizado pelo economista e professor José Paschoal Rossetti para o livro “Governança Corporativa em Empresas Familiares”, lançado este ano pelo IBGC, no Congresso de Governança Corporativa, realizado em São Paulo.
A perpetuidade
A avaliação média dos “8 Ps” (7,3) é bastante próxima da percepção sobre as condições de perpetuidade das empresas. Nos questionários, cinco pontos foram relacionados à continuidade saudável das relações societárias e dos negócios das empresas:
- Ciclo de vida e crescimento dos negócios.
- Geração de resultados de curto prazo e acesso ao fluxo de caixa pelos acionistas.
- Propensão a inovações.
- Atenção às demandas legítimas de outros stakeholders.
- Preparação, alinhamento e motivação de herdeiros-sucessores.
Entre essas cinco “âncoras da perpetuidade”, a menos próxima de “situações desejáveis” foi a não limitação do sistema de governança aos interesses imediatos dos acionistas. Trata-se de hiato que, como os demais, requer adequação.
Por processos já amplamente praticados e por suas tendências, a perenidade das empresas passa por uma forte propensão dos grupos acionários a olhar para dentro e para fora dos seus próprios muros.
Uma das tendências da boa governança é o efetivo envolvimento das empresas com objetivos de largo alcance, em resposta à força crescente com que se manifestam, entre tantas questões emergentes, as sociais e as ambientais.
Fornecedores, empregados, consumidores, comunidades locais em que as empresas estão instaladas, governos e organizações não governamentais demandam por gestão e por provisões de externalidade positiva. Alavancam-se forças sinérgicas para a perpetuidade à medida que as expectativas e os interesses legítimos de todos esses grupos de interesse forem adequadamente atendidos.
A “proposta iluminada” de Jensen[1], sugere que o interesse pelo retorno total de longo prazo dos acionistas e os interesses de outras partes interessadas são crescentemente convergentes. Não é uma boa prática desconsiderar esta orientação.
Outra “âncora” com hiato expressivo nas nove empresas foi a baixa propensão a inovações, provavelmente decorrente de culturas marcadamente conservadoras. Em contrapartida, os ciclos de vida dos negócios das empresas avaliadas são percebidos como promissor e os grupos acionários mostram-se dispostos a investir nas perspectivas de expansão de seus negócios – uma avaliação consistente com um dos valores e princípios praticados, o compromisso preferencial com a empresa.
Os resultados são percebidos como bons, bem como questões mais sensíveis na governança de empresas familiares – as condições de acesso ao fluxo de caixa pelos acionistas e sua compatibilização com os objetivos de investimento.