Comitê de Governança no PSDB: um avanço de alta qualidade na Gestão Pública Brasileira, ou uma perigosa jogada política?

Em convenção do PSDB realizada no dia 18 de maio de 2013, o presidente eleito, senador Aécio Neves, anunciou a inserção do Comitê de Governança Estratégica no estatuto do partido, que terá o papel de avaliar o quadro político nacional, orientando e monitorando as ações do partido na sociedade e no Congresso Nacional. Trata-se da criação de um colegiado composto por seis vice-presidentes, que terão responsabilidades e papéis diferenciados, e que serão cobrados por metas individuais de desempenho. 

A criação deste comitê, além de ser uma ótima notícia para a conjuntura política atual, consiste também em um ato de extrema coragem e audácia do partido. Mais ainda, estruturar um ambiente de Governança em um partido como o PSDB, significa ter como ponto de partida uma clara definição da estrutura de funcionamento organizacional para a geração, articulação e execução de projetos institucionais e partidários, baseados em metas quantitativas e interconsistentes. Tais projetos deverão ser capazes de criar uma estratégia nacional mobilizadora, além de legitimar o partido como um agente confiável de mudança no precário momento institucional brasileiro. 

A Governança é baseada em princípios que orientam os valores e definem regras e práticas em qualquer tipo de instituição. Será um avanço de alta qualidade na gestão pública brasileira se o partido conseguir explicitar os seus fundamentos, evidenciar os seus princípios de governança e de gestão, e principalmente, definir um grande projeto nacional, que faça sentido a maior parte dos brasileiros. A prestação responsável de contas, a conformidade legal e a transparência, princípios de uma boa governança, é a fatura que será cobrada pela sociedade. 

Por outro lado, será uma perigosa jogada política, caso o partido não esteja suficientemente coeso para a grande responsabilidade e para os impactos políticos decorrentes desta brilhante iniciativa.

Neste sentido, será exigido um amplo envolvimento das lideranças para garantir a legitimidade e a consistência na execução da estratégia definida, assim como, posturas coerentes de todas as lideranças internas. A assertividade do foco em resultados para a sociedade brasileira é a grande expectativa política que não pode ser mais uma vez frustrada.

Dessa maneira, creio que esta ousada e corajosa iniciativa pode se tornar uma referência de alta qualidade na gestão pública de nosso país. Acredito e aposto nisto porque o momento é impar e necessário. O Brasil reclama por novos arranjos institucionais, fundamentados em valores e princípios morais que possam gerar resultados. Será uma lástima se esta iniciativa se tornar mais uma grande falácia política por falta de coesão partidária e disputa interna de poder, características inerentes à todos os atuais partidos políticos brasileiros. 


Adriana de Andrade Solé. Engenheira Eletricista. Conselheira de Administração certificada pelo IBGC. Coautora do Livro Governança Corporativa: Fundamentos, Desenvolvimento e Tendências, Editora Atlas. Professora e Consultora em Estratégia Empresarial e Governança Corporativa. E-MAIL: adrianasole@globo.com

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