Tag: governança corporativa

Especial: os “8 Ps” da governança corporativa em nove empresas brasileiras (parte 5)

Inaugurando nosso primeiro post de 2012, hoje daremos continuação a série de publicações com o resultado da avaliação situacional dos “8Ps” da Governança Corporativa com o tema “Os propósitos”. O levantamento foi realizado pelo economista e professor José Paschoal Rossetti para o livro “Governança Corporativa em Empresas Familiares”, lançado este ano pelo IBGC, no Congresso de Governança Corporativa, realizado em São Paulo. Os propósitos A existência formal de um planejamento estratégico para horizonte plurianual, documentado e definido por metodologias estruturadas e com o apoio de consultorias externas, não é característica dominante nas empresas avaliadas. Também não é prática comum a emissão anual de direcionadores pelo Conselho de Administração, em calendário pré-definido, abrindo o “ciclo de planejamento” da empresa. Mesmo a produção de um business plan anual, produzido pela diretoria executiva e submetido à homologação do Conselho de Administração, não é prática rigorosa. Há hiatos neste campo em relação às “situações desejáveis”. A gestão e os negócios são direcionados por métodos tradicionais, buscando-se a preservação do patrimônio tangível e intangível historicamente acumulado. O redirecionamento ocorre à medida que surgem oportunidades e desafios ou se percebem riscos, ameaças e mudanças nos setores de atuação e nos ambientes institucional, regulatório e socioeconômico. Os propósitos orientador (missão) e empresarial (visão), embora não atrelados a um plano estratégico formal e de longo prazo, são percebidos como bem alinhados às mudanças no ambiente de negócios em que as empresas operam. E é alta a coesão percebida entre os membros da administração quanto a questões de alta relevância, que possam

Especial: os “8 Ps” da Governança Corporativa em nove empresas brasileiras (parte 4)

Dando continuação a série de publicações com o resultado da avaliação situacional dos “8Ps” da Governança Corporativa em nove empresas brasileiras (2006 a 2011), hoje apresentamos a quarta parte, que versa sobre “Os Princípios”. O levantamento foi realizado pelo economista e professor José Paschoal Rossetti para o livro “Governança Corporativa em Empresas Familiares”, lançado este ano pelo IBGC, no Congresso de Governança Corporativa, realizado em São Paulo. Os princípios O quadro de valores e princípios foi avaliado como um dos mais importantes ativos intangíveis nas nove empresas. Os legados dos fundadores, presentes ou não, transmitem-se de geração a geração e transparece o zelo com que são cultivados. As listagens dos valores incluem princípios morais, como integridade, honestidade e preservação da união familiar. A conformidade legal na condução da gestão e no trato dos negócios é associável a estes princípios. Somam-se a eles traços culturais comuns às empresas, como trabalho, simplicidade, segurança, “pé no chão” e compromisso preferencial com a empresa – para focar a capitalização como um dos fundamentos da perpetuidade. A preservação desses valores pelos acionistas que atuam na administração é um dos elementos mais visíveis que lhes conferem legitimidade e reforçam a confiança neles depositada. As transgressões aos legados e aos valores fundamentais são raras, apuradas com critérios historicamente praticados, ainda que não formalmente estabelecidos. Essa forma de agir é reforçada pelo forte alinhamento ao quadro de valores percebido na alta administração. Não há, porém, provavelmente pela força com que se preservam as crenças e os valores familiares e pela prática

Especial: os “8 Ps” da governança corporativa em nove empresas brasileiras (parte 3)

Dando continuação a série de publicações com o resultado da avaliação situacional dos “8Ps” da Governança Corporativa em nove empresas brasileiras (2006 a2011), hoje apresentamos a terceira parte, que versa sobre “A propriedade”. O levantamento foi realizado pelo economista e professor José Paschoal Rossetti para o livro “Governança Corporativa em Empresas Familiares”, lançado este ano pelo IBGC, no Congresso de Governança Corporativa, realizado em São Paulo. A propriedade O Quadro 1 traz os resultados da avaliação sobre sete questões fundamentais relacionadas à propriedade. Nas nove empresas, a média ponderada das avaliações foi de 7,2, bastante próxima da média geral. As questões com maior distanciamento em relação às situações desejáveis relacionaram-se aos sucessores dos atuais grupos controladores, tanto em relação às percepções sobre alinhamento entre eles quanto à preparação e à motivação para integrarem a administração das empresas. Níveis mais altos de coesão foram observados entre os grupos acionários controladores. Estas avaliações confirmaram resultados de pesquisa anterior[1] que realizamos na Fundação Dom Cabral, no período 1998-2005, no Programa PDA – Parceria para o Desenvolvimento de Acionistas – abrangendo 30 empresas e 237 controladores e sucessores de empresas familiares. Nessa pesquisa, os graus presumidos de coesão foram classificados como muito altos e altos entre 74,2% dos controladores; entre 20,3%, baixos; e muito baixos entre 5,5%. Já entre controladores e sucessores, os graus muito altos e altos caíram para 36,2%; baixos, 47,2%; muito baixos e não indicados, 15,6%. A questão que recebeu a mais alta pontuação foi a blindagem da empresa quanto a fatores de risco

Especial: os “8 Ps” da governança corporativa em nove empresas brasileiras (parte 2)

Dando continuação a série de publicações com o resultado da avaliação situacional dos “8Ps” da Governança Corporativa em nove empresas brasileiras (2006 a 2011), hoje apresentamos a segunda parte, que versa sobre as características das empresas selecionadas. O levantamento foi realizado pelo economista e professor José Paschoal Rossetti para o livro “Governança Corporativa em Empresas Familiares”, lançado este ano pelo IBGC, no Congresso de Governança Corporativa, realizado em São Paulo. Características das empresas selecionadas De um universo de quinze empresas em que a metodologia foi aplicada, doze são familiares de capital fechado. Das doze, selecionamos nove, todas com uma característica comum: já contavam com Conselhos de Administração. Entendemos que não se trata – e por várias razões metodológicas – de uma amostra representativa do universo destas empresas no Brasil. Ainda assim, admitimos que seja um conjunto significativo, tanto para avaliar a eficácia do método que empregamos, quanto para apontar problemas comuns identificados nestas empresas, como ainda para tipificar seus ambientes de governança. O conjunto das nove empresas é qualificável por três atributos revelados na Figura 2. Setores de atividade; 2. Dimensões econômicas; e 3. Estágios geracionais. O levantamento situacional, em todas elas, foi realizado com questionário respondido por acionistas atuantes na administração (Conselho ou Diretoria-executiva), por acionistas não administradores, por sucessores indicados pelas famílias e por diretores e gerentes indicados pelos administradores. As respostas aos questionários foram precedidas, em todas as empresas, por entrevistas individuais estruturadas, focadas nas percepções dos entrevistados sobre questões relacionadas a cada um dos “8 Ps”. A mediana do

Especial: Os “8 Ps” da governança corporativa em nove empresas brasileiras (Parte 1)

Apresentamos uma série de publicações com o resultado da avaliação situacional dos “8Ps” da Governança Corporativa em nove empresas brasileiras, no período de 2006 a 2011. O levantamento foi realizado pelo economista e professor José Paschoal Rossetti para o livro “Governança Corporativa em Empresas Familiares”, lançado este ano pelo IBGC, no Congresso de Governança Corporativa, realizado em São Paulo. Uma proposta metodológica para levantamento de hiatos Este levantamento apresenta os resultados de metodologia de avaliação situacional aplicada em nove empresas familiares brasileiras, no período 2006-2011, em trabalhos de consultoria para adequação dos sistemas de governança corporativa. O objetivo do levantamento é avaliar a situação das empresas e identificar hiatos em relação a “situações desejáveis”, em oito dimensões, descritas por “8 Ps”. Em cada dimensão foram destacados pontos positivos dos sistemas de governança. Mas foram também observados hiatos que sintetizam adequações exigidas para maior aproximação às práticas desejáveis de boa governança. Os pontos mais fortes das empresas avaliadas são a estrutura de poder estabelecida; os valores, princípios e legados; e a qualidade dos propósitos e rumos estratégicos definidos para os negócios. Já os que requerem maior atenção são a clareza na definição dos países das famílias, dos grupos societários e dos administradores; a gestão de pessoas; e as regras, as práticas, o funcionamento e a eficácia dos Conselhos de Administração. Introdução Em busca de metodologias e de instrumentos de trabalho para levantamentos situacionais e adequação de sistemas de governança, propusemos, em Governança corporativa: fundamentos, desenvolvimento e tendências [1], uma síntese descrita por “8 Ps”:

Dez anos de Enron: importância e deficiências

Excelente artigo[1] do professor doutor da FEA/USP, Alexandre Di Miceli, chama atenção para a necessidade de se compreender a fraude contábil da Enron como uma consequência dos problemas relacionados à gestão da companhia e ao seu relacionamento com os agentes do mercado americano. O caso Enron, como ficou conhecido, tornou-se um dos exemplos mais emblemáticos de fraude e crise de confiança enfrentada pelos EUA desde 1929. A gigante americana do setor de energia pediu concordata em dezembro de 2001, após ser alvo de uma série de denúncias de fraudes contábeis e fiscais. Segundo investigações federais, a Enron criou parcerias com empresas e bancos que permitiram manipular o balanço financeiro, escondendo débitos e inflando artificialmente os lucros da empresa. Esta conivência contou com o apoio de bancos de investimentos, diretores, executivos, acionistas, contadores, escritórios de advocacia, e até mesmo, da “conceituada” empresa de auditoria Arthur Andersen, que prestava serviços a Enron. Com o objetivo de analisar este imbricado episódio, Di Miceli ressaltou em seu artigo, a importância do processo de Governança Corporativa mundial, além de apontar inúmeras deficiências na gestão desta empresa, que relacionamos a seguir: Importância emblemática da Enron Grande repercussão pelo porte da companhia: era a 7ª empresa norte-americana em receita, considerada modelo de sucesso pelos principais especialistas de mercado; Foi o estopim para os problemas de governança em outras empresas norte-americanas e europeias como: WorldCom, Tyco, Parmalat e Royal Ahold; Contribuiu para a aprovação da lei Sarbanes Oxley[2] com impactos em companhias de todo o mundo, aumentando as discussões, e evidenciando

O dono e seus princípios: a marca e a credibilidade da empresa

“Perca dinheiro pela empresa, e serei compreensível; perca um pedacinho da reputação da empresa, e serei impiedoso.” A frase acima foi dita por Warren Buffett, um dos homens mais ricos do mundo, durante Assembleia Geral da Berkshire Hathaway, realizada em maio de 2011. Como diretor e fundador da companhia e atual presidente do Conselho de Administração, o homem que construiu sua fortuna “comprando príncipes pelo preço de sapos”, evidenciou seu desapontamento com a demissão de seu braço direito, o executivo-chefe David Sokol, envolvido em um caso de “insider trading”[1]. A trajetória de Buffett, forjada durante mais de cinco décadas, lhe deu a fama de alcunha de oráculo como investidor norte-americano. Suas apostas certeiras ao investir em companhias dos mais variados setores fizeram dele um dos homens mais admirados e ricos do planeta. Mestre do bom senso e detentor de fortes princípios, raras vezes tropeçou e, quando isso aconteceu, encontrou rapidamente uma forma de se reerguer. Com 80 anos de idade, dono de uma fortuna avaliada em 50 bilhões de dólares, afirmou que os códigos de ética da Berkshire Hathaway serão revistos, e se for o caso, modificados. Esta atitude veio em decorrência do imbróglio causado por David Sokol executivo-chefe da organização, demitido após ter embolsado US$3 milhões com a venda de ações de uma empresa do setor químico, que comprara dias antes de convencer Buffett a investir na companhia. “Inexplicável e Indesculpável”, afirmou o megainvestidor, após o estouro do escândalo. Este episódio evidencia, ao menos, duas graves falhas na condução dos negócios de

Assembleias de acionistas: temporada 2011 Brasil

Longe de ser um sucesso de público, a última temporada das assembleias de acionistas evidenciaram mudanças positivas para o modelo brasileiro de Governança Corporativa A Assembleia Geral é o órgão soberano da sociedade. A soberania deste órgão só é limitada pelas normas da lei e por condições estabelecidas no estatuto da sociedade. É de sua competência privativa deliberar sobre matérias de alta relevância. Os poderes da Assembleia Geral alcançam todos os negócios da sociedade e suas resoluções estão voltadas para a defesa da companhia, para a sua continuidade e para o seu desenvolvimento. O encarte especial do jornal Valor Econômico: Valor Investe, de junho 2011, trouxe uma excelente matéria intitulada “Os bastidores da assembleia” que evidenciou a evolução deste momento nas empresas brasileiras: Passado recente: As empresas não facilitavam o acesso dos acionistas à empresa, o que incluía também às assembleias. Casos lendários: Data da Assembleia marcada em um feriado às 10h da manhã, e outra, reunião agendada para acontecer no décimo segundo andar com elevador desligado. (é mole!?) Atualmente: Companhias se esforçam para atrair investidores, com amplo espaço preparado e destinado aos acionistas, mas ainda prevalece quantidade significativa de cadeiras vazias. Notável presença de investidores estrangeiros, pessoas físicas ou por voto via procuração. Acionistas minoritários estrangeiros e institucionais locais mais presentes e ativos. Novas características percebidas em 2011: Divulgação de informações prévias mais abrangentes sobre a pauta dos encontros; Existência de empresas sem controlador definido; Presença maior de gestores ativistas no mercado brasileiro; Atendimento à Instrução 481 da CVM, enfatizando a questão

Pecados de Carnaval

Em meio à festa que vive a bolsa de São Paulo, ficam em evidência vícios de governança corporativa nas empresas brasileiras. As autoridades procuram solucioná-los para evitar impacto nos investidores Verónica Goyzueta, de São Paulo para Revista América Economia, março de 2011 (P. 66 a 70) Quem quer dinheiro? ”Esse é o bordão do apresentador mais popular da televisão brasileira para sua plateia, formada por gente humilde, que se acotovela e se empurra para agarrar no ar um dos inúmeros aviõezinhos de dinheiro disparados por ele. Silvio Santos, multimilionário dono de um grupo de empresas que inclui o SBT, a terceira maior rede de televisão do país, viu sua frase mais famosa se transformar. Em novembro do ano passado, anunciou que havia sido vítima de uma gigantesca fraude contábil em uma de suas empresas, o Banco PanAmericano: um rombo impressionante, de US$ 2,6 bilhões. “Se o Fundo de Garantia de Crédito não tivesse liberado recursos para cobrir um déficit desse tamanho, o Banco Central teria decretado falência, com consequências imprevisíveis para o sistema financeiro”, afirma Marcelo Lico, sócio da Macro Auditoria e Consultoria. O caso PanAmericano pisou em vários pilares de governança corporativa, como transparência, equidade, prestação de contas e respeito às leis. E deixou os nervos expostos no sistema da bolsa brasileira. A habilidade do velho Silvio e a ousadia do dono do BTG Pactual, o jovem André Esteves, que acabou comprando o PanAmericano, evitaram uma calamidade em um mercado que ferve de otimismo. A auditoria realizada na empresa teve resultados assustadores:

Governança corporativa em empresas familiares: transição de comando e a sucessão

Artigo de Adriana de Andrade Solé* publicado pelo “A Agenda”, newsletter do PMR Advogados “Tarefa urgente: formar sucessores bem qualificados” e “Formar a próxima geração de gestores é a questão mais urgente da agenda dos dirigentes de empresas no Brasil”. Estas foram as chamadas para a matéria publicada no caderno especial Executivo, do Jornal Valor Econômico, em maio de 2011. Segundo a matéria, estas questões preocupam e desafiam boa parte dos dirigentes das empresas brasileiras, independente de qual seja a tipologia ou porte da instituição. No contexto de empresas familiares, esta questão é uma das mais difíceis e críticas de se enfrentar. Segundo Castilla, Varquéz e Diaz (2007), a sucessão é o período mais perigoso que a empresa familiar enfrenta. É o rito de transferência do poder e do capital, entre a atual geração dirigente e a que virá a dirigir, completa Leone (2005). A família apesar de desejar que seu empreendimento seja lucrativo e crie cada vez mais valor, também tem a clara percepção de que os conflitos familiares, a indiferença ou a falta de profissionalismo de seus membros pode prejudicar a capacidade de prosperidade da empresa, destruindo assim, o suporte financeiro para seus membros e corroendo o legado e a instituição que eles tanto se esforçaram para construir. Ao mesmo tempo, percebem o quanto o ambiente empresarial familiar gera tensão, ciúme e ressentimento, desencadeando, na maioria das vezes, um certo desinteresse de parte dos herdeiros no sucesso do empreendimento. O ajuste deste conflito passa pelo enfrentamento de duas questões-chave: A primeira